NOS
TEMPOS DA REVOLUÇÃO
Por: Rolando
Boldrin
Vejam
só: até dos tempos da marfadada revolução tem causos pra gente contar. Esse que
conto agora é dum camarada muito boateiro que tinha num bairro de São Paulo. O
homem fazia boato de tudo. E isso era sempre num botequinho que ele
freqüentava. Inventava coisas do governo militar, coisas de autoridades,
zombava disso e daquilo outro.
Acontece
que, desse barzinho gostoso de se trocar umas conversas de fim de tarde, um
coronel que estava sempre à paisana era também um grande freguês. E, portanto,
sabedor e até ouvinte assíduo do boateiro. Ninguém naquele boteco sabia que o
coronel era coronel do nosso glorioso Exército... isso porque o dito cujo não
fazia propaganda da farda. Era um cabra até que bem humilde e bom de papo.
Mas
os boatos do tal amigo foram de certa forma chegando ao exagero e, com isso, no
bom palavreado, foi enchendo o saco do bom militar. Daí o tal coronel resolve
fazer uma brincadeira corretiva com o boateiro. E, pra isso, simula uma
operação militar com jipes, metralhadoras e pessoal fardado, tudo combinado
para simplesmente pregar uma boa peça no moço dos boatos, pois os vários boatos
já estavam deixando a situação dos militares um pouco chata.
Pois
bem. Era de tardezinha, nosso amigo dos boatos falava mal dos fardados e eis
que, de repente surge aquela operação militar de araque.
Coronel
(fardado e bravo) – O senhor está preso. Coloquem este indivíduo no camburão. O
senhor vai ser julgado por júri militar e condenado, por causa dos boatos
referentes ao Exército.
Levam
o dito cujo, simulam um júri e a condenação: morte por fuzilamento.
Pois
bem. Isso posto, lá está o nosso amigo num paredão e na sua frente 5 fuzileiros
apontando armas (com festim, é claro).
Coronel– Apontarrr.... fogo!
Dispararam as armas e o susto foi o pretendido pelo coronel, que se aproxima do boateiro,
ainda bravo:
Coronel
– Isso é só pro senhor aprender a não falar mal das Forças Armadas. Entendeu?
Fora daqui, sêo desocupado (e dá-lhe um último empurrão).
No
outro dia, lá está o nosso querido boateiro, chegando à porta do mesmo
botequim, para as conversas de sempre, regadas duma boa cachacinha.
Alguns
clientes e amigos que tinham presenciado a prisão do nosso amigo no dia anterior
se aproximam para saber das novidades, sobre o efeito da bronca do nosso
militar.
Freguês
– Então, Justino! Como foi lá no quartel? Conta aí pra gente as novidades...
O
nosso amigo boateiro chama todos para perto de si para cochichar um último e criativo
boato:
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