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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

CAUSOS

 O BOM HUMOR DE CARLOS AUGUSTO
(Desembargador Carlos Augusto Caldas da Silva)
 
 
Durante uma sessão da Congregação da Faculdade de Direito de Natal, um desentendimento entre os professores Floriano Cavalcanti e Emídio Cardoso esquentava, numa troca de palavras ásperas, preocupando os colegas, temerosos de que aquele diálogo ríspido entre dois velhos amigos levasse a um desfecho desagradável. Nisso, ouve-se a voz solene e inesperada do doutor Carlos Augusto:
- Sr. Presidente, Eu tenho uma preliminar.
- Pois não. E qual é a preliminar? - indaga o doutor Otto Guerra, que presidia à sessão.
- Eu quero lembrar a V. Excelência. que ainda não serviram o cafezinho.
- E uma risada geral descontrai o ambiente encerrando a discursão.

* * * * *

Uma vaga de desembargador no Tribunal de Justiça era disputada pelos doutores Emídio Cardoso e João Maria Furtado. Muito religioso, o doutor Emídio encontrava-se ajoelhado aos pés da estátua do padre João Maria, na praça do mesmo nome, quando alguém o interrompe, batendo-lhe no ombro. Era o doutor Carlos Augusto:
- Não adianta Emídio. Você acha que o padre João Maria vai deixar de apoiar João Maria, o seu xará?

* * * * *

Os desembargadores Carlos Augusto e Floriano Cavalcanti disputavam o cargo de presidente do Tribunal de Justiça do Estado. Fazendo as contas, Carlos Augusto verifica que ia perder por um voto. Para reverter o resultado, só havia uma saída: apelar para a astúcia. Displicentemente, senta-se ao lado do doutor João Vicente. A certa altura, como que falando para si próprio, lamenta-se simulando derrotado:
- Mas é danado! Floriano vai ser presidente do Tribunal graças a Zé Augusto.
- Como - exclama, entre assustado e curioso, o doutor João Vicente.
- E você ainda não sabe do telegrama?
- Que telegrama?
- O telegrama que o doutor José Augusto passou a um colega aqui no Tribunal pedindo votos para Floriano.
E o desembargador João Vicente, irreconciliável adversário do deputado José Augusto Bezerra, responde indignado:
- Pois agora o meu candidato é você. Não voto mais em Floriano.
Feita a eleição e aberta a urna, Carlos Augusto vence por um voto. Inconformado, o doutor Floriano, que já se considerava eleito, foi apurar para saber quem lhe faltara com a palavra. E chega ao desembargador João Vicente, que lhe declarou:
- Eu sou muito franco, Floriano! Deixei de votar em você por Zé Augusto achou de lhe apoiar. E eu não voto em candidato patrocinado por Zé Augusto.
- Absolutamente! Não houve isso!
- E o telegrama?
- Que telegrama?...

* * * * *

Na Ordem dos Advogados um conhecido desembargador alongava-se numa conferência pouco interessante e monótona.
- Ele esta demorando a achar uma saída para terminá-la - comenta o doutor Otto Guerra.
E a resposta imediata de Carlos Augusto a seu colega, já impaciente também com a palestra interminável:
- É que ele quebrou o trem de aterrisagem.

* * * * *

No Pronto Socorro, saindo da agonia de um edema pulmonar, ainda assim o doutor Carlos Augusto não deixa escapar a oportunidade de pilheriar. Para ajudar o cardiologista na desesperada tentativa de salvá-lo chega, apressada e solícita, uma enfermeira que era a feiura personificada: baixa e gorda, sem pescoço, de laço no cabelo pixaim e de óculos na ponta do nariz chato.
Ainda cansado da crise que quase o mata e com a fala entrecortada, diz ao seu médico:
- A minha maior preocupação, Paulo (Dr. Paulo Bittencourt), era morrer levando comigo a imagem daquela mulher danada de feia. Eu que durante a minha vida conheci tantas mulheres bonitas. 

* * * * *

Amanhecera um dia de gorro cobrindo a careca luzidia. Uma de suas filhas comenta admirada:
- Papai, há quantos anos o senhor não usa esse bibico!
- Estou despistando a morte, minha filha. Sonhei com ela procurando um careca.
Não conseguiu despistá-la. Morreu dois dias depois.
Era assim o desembargador Carlos Augusto Caldas da Silva, que não precisou lamentar-se como o jurista Pontes de Miranda, que na velhice queixava-se de haver levado a vida muito a sério.

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 Do livro: HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NA HISTÓRIA de autoria do professor JOSÉ DE ANCHIETA FERREIRA. Editado pela RN Gráfica e Editora Ltda - Natal, 1989.

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