(Desembargador
Carlos Augusto Caldas da Silva)
Durante uma sessão da Congregação
da Faculdade de Direito de Natal, um desentendimento entre os professores
Floriano Cavalcanti e Emídio Cardoso esquentava, numa troca de palavras
ásperas, preocupando os colegas, temerosos de que aquele diálogo ríspido entre
dois velhos amigos levasse a um desfecho desagradável. Nisso, ouve-se a voz
solene e inesperada do doutor Carlos Augusto:
- Sr. Presidente, Eu tenho uma
preliminar.
- Pois não. E qual é a
preliminar? - indaga o doutor Otto Guerra, que presidia à sessão.
- Eu quero lembrar a V. Excelência.
que ainda não serviram o cafezinho.
- E uma risada geral descontrai o
ambiente encerrando a discursão.
* * * * *
Uma vaga de desembargador no
Tribunal de Justiça era disputada pelos doutores Emídio Cardoso e João Maria
Furtado. Muito religioso, o doutor Emídio encontrava-se ajoelhado aos pés da
estátua do padre João Maria, na praça do mesmo nome, quando alguém o
interrompe, batendo-lhe no ombro. Era o doutor Carlos Augusto:
- Não adianta Emídio. Você acha
que o padre João Maria vai deixar de apoiar João Maria, o seu xará?
* * * * *
Os desembargadores Carlos Augusto
e Floriano Cavalcanti disputavam o cargo de presidente do Tribunal de Justiça
do Estado. Fazendo as contas, Carlos Augusto verifica que ia perder por um
voto. Para reverter o resultado, só havia uma saída: apelar para a astúcia.
Displicentemente, senta-se ao lado do doutor João Vicente. A certa altura, como
que falando para si próprio, lamenta-se simulando derrotado:
- Mas é danado! Floriano vai ser
presidente do Tribunal graças a Zé Augusto.
- Como - exclama, entre assustado
e curioso, o doutor João Vicente.
- E você ainda não sabe do
telegrama?
- Que telegrama?
- O telegrama que o doutor José
Augusto passou a um colega aqui no Tribunal pedindo votos para Floriano.
E o desembargador João Vicente,
irreconciliável adversário do deputado José Augusto Bezerra, responde
indignado:
- Pois agora o meu candidato é
você. Não voto mais em Floriano.
Feita a eleição e aberta a urna,
Carlos Augusto vence por um voto. Inconformado, o doutor Floriano, que já se
considerava eleito, foi apurar para saber quem lhe faltara com a palavra. E
chega ao desembargador João Vicente, que lhe declarou:
- Eu sou muito franco, Floriano!
Deixei de votar em você por Zé Augusto achou de lhe apoiar. E eu não
voto em candidato patrocinado por Zé Augusto.
- Absolutamente! Não houve isso!
- E o telegrama?
- Que telegrama?...
* * * * *
Na Ordem dos Advogados um
conhecido desembargador alongava-se numa conferência pouco interessante e
monótona.
- Ele esta demorando a achar uma
saída para terminá-la - comenta o doutor Otto Guerra.
E a resposta imediata de Carlos
Augusto a seu colega, já impaciente também com a palestra interminável:
- É que ele quebrou o trem de
aterrisagem.
* * * * *
No Pronto Socorro, saindo
da agonia de um edema pulmonar, ainda assim o doutor Carlos Augusto não deixa
escapar a oportunidade de pilheriar. Para ajudar o cardiologista na desesperada
tentativa de salvá-lo chega, apressada e solícita, uma enfermeira que era a
feiura personificada: baixa e gorda, sem pescoço, de laço no cabelo pixaim e de
óculos na ponta do nariz chato.
Ainda cansado da crise que quase
o mata e com a fala entrecortada, diz ao seu médico:
- A minha maior preocupação,
Paulo (Dr. Paulo Bittencourt), era morrer levando comigo a imagem daquela
mulher danada de feia. Eu que durante a minha vida conheci tantas mulheres
bonitas.
* * * * *
Amanhecera um dia de gorro
cobrindo a careca luzidia. Uma de suas filhas comenta admirada:
- Papai, há quantos anos o senhor
não usa esse bibico!
- Estou despistando a morte,
minha filha. Sonhei com ela procurando um careca.
Não conseguiu despistá-la. Morreu
dois dias depois.
Era assim o desembargador Carlos
Augusto Caldas da Silva, que não precisou lamentar-se como o jurista Pontes de
Miranda, que na velhice queixava-se de haver levado a vida muito a sério.
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