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sábado, 13 de setembro de 2014

RIO GRANDE DO NORTE

É HISTÓRIA
TIROTEIO POLÊMICO
 
É injusta a versão ainda corrente entre historiadores e memorialistas de que o então Presidente do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine (até 1930 o Chefe do Executivo Estadual era chamado Presidente) mandou abrir fogo contra os caravaneiros da Aliança Liberal que percorriam o país em campanha eleitoral.
Em depoimento a Glauco Carneiro, Batista Luzardo refere-se emocionalmente ao episódio. Indo protestar ao Governador contra a violência, declarou: "O Lamartine fora o meu companheiro na Câmara. Abriu os braços, efusivo: - Seu Luzardo! Como tem passado? Meu velho amigo!... (cínico como o diabo). Eu entrei de rijo, começando pela tropa presente nas estações, desde Nova Cruz... Era um cangaceiro cínico, acostumado a matar, daqueles que bebiam o sangue da vítima." O escritor e jornalista Paulo Duarte, no segundo volume de suas memórias, incide no mesmo erro de julgamento:  "...aí chegou, também, no dia daquela nossa primeira visita (ao Instituto do Café, em Paris) Juvenal Lamartine, antigo Governador do Rio Grande do Norte.Conhecera-o quando estive em Natal com a Caravana Democrática, em 1930. Fomos lá recebidos à bala, tendo três pessoas morrido, assassinadas pela sua polícia, quando realizá-vamos o primeiro comício, ficando cerca de dez feridos. Depois do estrupício mandou visitar-nos e, no mesmo dia, nos recbeu em palácio, lamentando pesaroso o acontecimento... Com a Revolução de 30, teve que fugir e, agora, venho encontrá-lo no Instituto do Café. Ao ser-me reapresentado reconheceu-me desapontado, mas depois conversamos longamente. Deu-me a idéia que eu já tinha dele: daqueles donos da política, capazes de todas as violências e de todas as generosidades."
 
 
 
Não fica atrás, o Desembargador João Maria Furtado, que escreveu na página 109 de seu livro "Vertentes": "...no mesmo local qm que, a 7 de fevereiro de 1930, a Caravana Democrática fora tiroteada pela polícia e capangas do Governador Juvenal Lamartine."
Desembarcando de um trem especial na estação da Great Western, na Ribeira, a caravana foi recebida por uma multidão que se espraiava pela praça Augusto Severo, daí, seguindo a pé em direção da avenida Tavares de Lyra. Logo na esquina da Dr. Barata o telegrafista José Anselmo ensaiou um discurso, mas foi obrigado a desistir, forçado a descer de um tamborete improvisado em tribuna, pelos apupos de um pequeno grupo liderado por Otávio Lamartine, Lauro Botelho, Elias Galvão e outros. Na calçada do Hotel Internacional, onde a caravana se instalou, o professor Fontes Galvão, de sua cadeira de rodas, tentou, inutilmente, dizer algumas palavras. Em seguida, quando, de uma das janelas do hotel coberta com a Bandeira Nacional, Batista Luzardo iniciava o comício com inflamado discurso, o grupo governista voltou à carga, tentando tumultuar exigindo, inclusive, que fosse retitrada a Bandeira Nacional, que não podia estar ali servindo de forro, etc. O tenente do Exército, Everaldo Vasconcelos, irritado, aceitou o desafio, e foi até eles esponder às provocações. Em meio a áspera discurssão, foi baleado, e começa o tiroteio.
"Eu estava com Horácio Barreto e Vicente Fernandes - declara textualmente o Dr. Aldo Fernandes - e demos uma carreira danada, e fomos bater no cais da Tavares de Lyra. Daí não podia-mos mais prosseguir, e ficamos encolhidos  num canto. E foi tiro como diabo. Quando terminou o tiroteio, não havia mais ninguém. Só tinha chapéus de palha. Era chapeu espalhado por toda a avenida. Vi algumas pessoas deitadas, mortos e feridos. Quando a coisa serenou, fomos à casa de Cícero Aranha, que morava ali perto. Estava indignado. - Comoé que Lamartine manda fazer uma coisa dessa? Eu estava lá com minhas irmãs... Naquela mesma ocasião resolvemos ir a casa de Lamartine pedir explicações, protestar contra tudo aquilo. Chegando lá, veio ao nosso encontro, angustiada, com as mãos na cabeça, D. Silvina. - Dr. Aldo, vocês não viram as minhas filhas por lá? Elas foram ao comício e ainda não chegaram..."
 
A aflição da esposa do Presidente, preocupada com as filhas que até aquele instante não haviam retornado do comício da Caravana Democrática, desmente actegoricamente, àqueles que atribuem a Juvenal Lamartine de Faria a responsabilidade pelo episódio sangrento de 7 de fevereiro de 1930, do qual entre inúmeros feridos, morreram o menor Indaleto de Freitas, o engenheiro agrônomo Fernando Barbosa e o comerciante José Faustino do Amorim.
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Do livro: 'HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NA HISTÓRIA' de autoria do Professor José de Anchieta Ferreira. Editado e Publicado pela RN Gráfica e Editora Ltda (2ª Edição Ampliada) - Natal/RN, 1989.

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