A LUTA CONTINUA!

biraviegas@bol.com.br

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

POESIA POPULAR NORDESTINA

UMA VACA MATOU ZÉ MARCOLINO
E EU NÃO DAVA JOSÉ NUMA BOIADA (*)
Ivanildo Vila Nova

Seu ofício era a arte de cantar
Catedrático nas aulas da natura
Cinturinha de abelha era a cintura
Das morenas nas noites de luar.
Afiou-se na pedra de amolar,
Mas a pedra da morte é afiada.
Ficou o barro batido da latada,
Sem as marcas dos pés do dançarino.
Uma vaca matou Zé Marcolino
E eu não dava José numa boiada.
- - - - -
Bira e Fátima não param de gemer
O serrote é agudo e está de prova
Com o tempo secou caçimba nova
Nunca mais o seu dono vai encher.
Quem botou Severina pra moer,
Foi moído na última caminhada.
E a limpeza da sala rebocada
É a cara do povo nordestino.
Uma vaca matou Zé Marcolino
E eu não dava José numa boiada.
- - - - -
.- Foi parceiro de Lua e gravou disco
Suas músicas passeiam por aí.
Triste pássaro carão do Cariri
Que voou procurando o São Francisco
Um vem-vem voejando tão arisco
Quando achou Pernambuco, fez morada.
Outro mito pisou Serra Talhada
Fez-se pó junto ao pó de Virgulino
Uma vaca matou Zé Marcolino
E eu não dava José numa boiada.
- - - - -
Foi a vaca o motivo desse choro
Sem querer nos causou tanta saudade.
Um poeta tem mais utilidade
Do que carne de vaca, leite e couro.
Era filho de Sumé e valeu ouro
Criatura telúrica e inspirada
Escreveu um poema pra estrada
E sucumbiu nas estradas do destino.
Uma vaca matou Zé Marcolino
E eu não dava José numa boiada.

(*) Tributo ao poeta Zé Marcolino
<<<<<>>>>>

Nenhum comentário: