Públio Lêntulo, governador da Judéia, (32 D. C.),
em carta dirigida ao Senado Romano, faz um retrato de Jesus Cristo.
- Soube, ó César, que desejavas informações acerca
desse homem virtuoso que se chama Jesus, que o povo considera um profeta, e
seus discípulos, o filho de Deus, criador do céu e da terra. Com efeito, César,
todos os dias se ouve contar dele coisas maravilhosas. Numa palavra, ele
ressuscita os mortos e cura os enfermos.
É um homem de estatura regular, em cuja fisionomia
se reflete tal doçura e tal dignidade que a gente se sente obrigado a amá-lo e
a temê-lo ao mesmo tempo.
A sua cabeleira tem até as orelhas, a cor das nozes
maduras e, daí aos ombros tingem-se de um louro claro e brilhante; divide-se
uma risca ao meio, á moda nazarena. A sua barba, da mesma cor da cabeleira, e
encaracolada, não longa e também repartida ao meio.
Os seus olhos severos têm o brilho de um raio de
sol; ninguém o pode olhar em face.Quando ele acusa ou verbera, inspira o temor,
mas logo se põe a chorar. Até nos rigores é afável e benévolo.
Diz-se que nunca ninguém o viu rir, mas muitas
vezes foi visto
chorando. As suas mãos são belas como seus braços, toda gente acha sua
conversação agradável e sedutora. Não é visto amiúde em público e, quando
aparece, apresenta-se modestíssimamente vestido.
O seu porte é muito distinto. É belo. Sua mãe,
aliás, é a mais bela das mulheres que já se viu neste país.
Se o queres conhecer, ó César, como uma vez me escreveste,
repete a tua ordem e eu te o mandarei. Se bem que nunca houvesse estudado, esse
homem conhece todas
as ciências.
Anda descalço e de cabeça descoberta.
Muitos riem, quando ao longe o enxergam; desde que,
porém, se encontram face a face com ele, tremem e admiram-no.
Dizem os hebreus que nunca viram um homem
semelhante, nem doutrinas iguais às suas. Muitos crêem que ele seja Deus,
outros afirmam que é teu inimigo, ó César.
Diz-se ainda que ele nunca desgostou ninguém, antes
se esforça para fazer toda gente venturosa.
Públio Lêntulo